Em que lugares do Brasil essa pronúncia é mais frequente? Em quais é menos? É mais comum que mulheres pronunciem de forma ditongada? É uma fala mais do "povo" ou das "patricinhas" e dos "mauricinhos" (sendo bem informal)?
Não é um tritongo? Posso estar enganada mas acho que eu só falo assim. Não sou lá muito ['bowə] de fonética. Mas mesmo se estivesse lendo um texto em voz alta numa palestra acho que ia sair assim.Nunca ouvi ditongo nessas palavras, mesmo andando com pessoas de todo nível intelectual. Soa muito afetado e horroroso até para os que não cuidam de falar bem. Ouviu nalgum lugar?
Não sabia disso. Moro na região de POA e falo "bôa", mas percebo que há bastante variação. Muitos falam "boua", assim como muitos têm a mesma pronúncia que eu. Meus pais são do interior do RS, de uma cidade de colonização italiana (embora meu pai e minha mãe já tenham tido o sotaque alterado fortemente por viver em outra região); ambos reproduzem "bôa", nunca "boua".Aparentemente todo brasileiro está propenso a dizer boua em fala descuidada para evitar o hiato.
Afetado soa, concordo contigo. Ouço com certa frequência essa pronúncia entre as pessoas com quem convivo - principalmente de meninas ou de mulheres. Minha pergunta sobre o fato de ser mais comum entre mulheres foi derivada justamente disso: parece ser uma fala mais "afetada", não sei explicar bem ao certo. Entre os meninos essa pronúncia parece ser mais reduzida - creio eu que justamente por soar mais "feminina" (e de forma alguma estou concordando com padrões de gênero; trata-se somente de minha análise, não tão objetiva por sinal). Assistindo a vídeos de pessoas de outras regiões do país (Brasil), de forma bem breve, percebi que os cariocas tendem a ditongar essas palavras.Nunca ouvi ditongo nessas palavras, mesmo andando com pessoas de todo nível intelectual. Soa muito afetado e horroroso até para os que não cuidam de falar bem. Ouviu nalgum lugar?
Fica a contribuição para a discussão.Pesquisa rápida: Sou paulistana e, revendo agora, acho que sempre falei "pessoua e "boua". Acabo de pedir a 3 pessoas (1 português e 2 paranaenses) que lessem "esta é uma boa pessoa" e todos pronunciaram "boa pessoa".
Não sei bem donde vem esse julgamento linguístico cada vez mais frequente aqui neste fórum, em que ou se questionam e tacham pronúncias ou usos alheios, ou se elaboram teses de fundo de quintal que sempre buscam apartar falantes por nível de instrução e quejandos.
Por algum motivo ainda subsiste no imaginário luso-brasileiro, de certo modo, sobretudo no brasileiro, que a boa pronúncia tem de se assemelhar à escrita, o que é irreal e risível, já que a pronúncia do português é bem distinta da escrita, embora o falante nativo não se aperceba disso, normalmente.
O nome disso é alofonia, não afetação. Além disso, também se frise que a ortoépia não recomenda uma pronúncia mais do que outra, ambas ocorrem em variação.
Confesso que elaboro essas ditas "teses de fundo de quintal", e acho que é até normal que muitos também o façam. De forma nenhuma, entretanto, o faço a fim de hierarquizar pessoas; faço-o por simples observação, até porque, como disse, a pronúncia do português é distinta da escrita: falo "pêxe" em vez de "peixe", reproduzo pronúncias variadas de acordo com o contexto ("tiá-tru", "ti-a-tru" e "tê-a-tru", digo "méu" em vez de "mel" (com o L pronunciado da forma tradicional), etc. A palavra "afetação" talvez não fosse a mais adequada, de fato. A ideia que quis dar era de que se tratava de uma pronúncia com "swag" (sendo bem informal), mas, como disse anteriormente, não tinha a mínima intenção de dizer que esse "swag" é algo negativo ou positivo. Quanto à observação que fez sobre a "segmentação", confesso que fiquei um pouco reticente. É um problema observar as variações de fala e agrupar certos traços de acordo com o grupo social a que as pessoas que o reproduzem pertencem, mesmo que sem a mínima intenção de tratá-las de forma inferior, somente para uma conversa menos técnica?Chamar um falante que obedece fenômenos produtivos da língua de forçado é um sinal de ignorância linguística pantafaçuda, para não dizer mais.
Variação é variação. É parte natural de qualquer idioma e alofonia existe em qualquer língua natural, não cabe aqui fazer juízo de valor sobre a variação alheia nem querer segmentar toda variação em grupos de pessoas estudadas ou não, pobres ou ricas e o que mais se tenha querido fazer por aqui ultimamente.
Certo. A bem verdade, o meu extensivo comentário dizia muito pouco sobre a sua postagem e dizia muito mais sobre o post #3.Confesso que elaboro essas ditas "teses de fundo de quintal", e acho que é até normal que muitos também o façam. De forma nenhuma, entretanto, o faço a fim de hierarquizar pessoas; faço-o por simples observação
De fato, a escolha foi infeliz pela problemática que ela traz consigo, mas, novamente, não foi você que surgiu com o termo, apesar de ter concordado com ele.A palavra "afetação" talvez não fosse a mais adequada, de fato. A ideia que quis dar era de que se tratava de uma pronúncia com "swag" (sendo bem informal), mas, como disse anteriormente, não tinha a mínima intenção de dizer que esse "swag" é algo negativo ou positivo.
Não, não é um problema. De todo. A questão é que certas questões que têm sido abordadas neste fórum ultimamente trazem sempre essa problemática à tona quando, na verdade, costumam ser meros traços dialetais ou fazem parte do português padrão. É sempre possível que haja pessoas inseridas em contextos sociais específicos e que tendem a achar que tudo aquilo que fuja ao seu socioleto ou dialeto local possa ser traço de fala menos cuidada ou que sejam características de pessoas não.escolarizadas quando, na verdade, não são. O caso de boa é mais ou menos este, embora ocorra em todos os lugares e dialetos do Brasil. É saudável que se façam perguntas e que haja debate, tomando sempre o cuidado de não deixar que as percepções pessoais permitam que se façam juízos de valor sobre a língua do vizinho.É um problema observar as variações de fala e agrupar certos traços de acordo com o grupo social a que as pessoas que o reproduzem pertencem, mesmo que sem a mínima intenção de tratá-las de forma inferior, somente para uma conversa menos técnica?
Ouve, na verdade, todos os dias. Como as palavras estão em variação, não percebe; o que por si só já mostraria que o seu juízo sobre a língua dos outros é descabido e obnóxio. Entretanto tenho de frisar algo muito curioso:Nunca ouvi ditongo nessas palavras, mesmo andando com pessoas de todo nível intelectual. Soa muito afetado e horroroso até para os que não cuidam de falar bem. Ouviu nalgum lugar?
Aí está uma pronúncia que nunca ouvi de paulista, muito menos de paulistano (o que não significa que não exista ou possa existir). Sabe-se que em vários lugares do estado de São Paulo, sobretudo nalguns lugares da capital, que a afinidade por ditongos é imensa, o que facilmente se percebe ao ouvir um paulistano falar: imensa, comendo, bebendo etc… A ditongação de "feio" também já ocorreu há muito, muito tempo e o que não é natural, de todo, é formar um hiato sem que tenha havido queda de consoante. Ora, da perspectiva lusófona geral, eu diria é que "feo" é que é um hiato forçado. E é. Não estou com isso querendo dizer que é uma pronúncia ridícula ou querendo dar a entender, como você fez, que o nível intelectual possa afetar nessa escolha peculiar de pronúncia. Respeito a variação e idioleto dos outros, como seria interessante que sempre se fizesse neste fórum.Sou paulista e digo «loco», «fea », «oro» e «boa». Se juntarmos as bichas, teremos «Na boa: é oportunidade de oro. Nem dê uma de loco, que é feo , parça». Enfim: falo «boa»
Sabe dizer se ocorre ou pode ocorrer também no centro-sul?Diz-se assim no norte de Portugal.
Não creio que ocorra a sul de Coimbra.Sabe dizer se ocorre ou pode ocorrer também no centro-sul?
Não sei se influencia nalgo: sou filho de nordestinos que, creio eu, comem as letras e dizem, por exemplo: fejão em vez de feijão. Não sou afeito a passeios, então fico mais em casa com minha família que na rua com colegas e amigos paulistas. Também não assisto a tevê muito, não.Certo. A bem verdade, o meu extensivo comentário dizia muito pouco sobre a sua postagem e dizia muito mais sobre o post #3.
De fato, a escolha foi infeliz pela problemática que ela traz consigo, mas, novamente, não foi você que surgiu com o termo, apesar de ter concordado com ele.
Não, não é um problema. De todo. A questão é que certas questões que têm sido abordadas neste fórum ultimamente trazem sempre essa problemática à tona quando, na verdade, costumam ser meros traços dialetais ou fazem parte do português padrão. É sempre possível que haja pessoas inseridas em contextos sociais específicos e que tendem a achar que tudo aquilo que fuja ao seu socioleto ou dialeto local possa ser traço de fala menos cuidada ou que sejam características de pessoas não.escolarizadas quando, na verdade, não são. O caso de boa é mais ou menos este, embora ocorra em todos os lugares e dialetos do Brasil. É saudável que se façam perguntas e que haja debate, tomando sempre o cuidado de não deixar que as percepções pessoais permitam que se façam juízos de valor sobre a língua do vizinho.
Ouve, na verdade, todos os dias. Como as palavras estão em variação, não percebe; o que por si só já mostraria que o seu juízo sobre a língua dos outros é descabido e obnóxio. Entretanto tenho de frisar algo muito curioso:
Aí está uma pronúncia que nunca ouvi de paulista, muito menos de paulistano (o que não significa que não exista ou possa existir). Sabe-se que em vários lugares do estado de São Paulo, sobretudo nalguns lugares da capital, que a afinidade por ditongos é imensa, o que facilmente se percebe ao ouvir um paulistano falar: imensa, comendo, bebendo etc… A ditongação de "feio" também já ocorreu há muito, muito tempo e o que não é natural, de todo, é formar um hiato sem que tenha havido queda de consoante. Ora, da perspectiva lusófona geral, eu diria é que "feo" é que é um hiato forçado. E é. Não estou com isso querendo dizer que é uma pronúncia ridícula ou querendo dar a entender, como você fez, que o nível intelectual possa afetar nessa escolha peculiar de pronúncia. Respeito a variação e idioleto dos outros, como seria interessante que sempre se fizesse neste fórum.