'De meu' refere-se a uma relação de pertença, que tanto pode ser apenas moral (caso do filho/filha), como patrimonial (no sentido material, de posse ou propriedade jurídica). Portanto, é possível dizer 'de meu só tenho uma filha', mantendo 'meu' no masculino, porque o referente não é a filha, mas o património moral da pessoa, aquele que nos permite afirmar que um filho é nosso, que faz parte do nosso património afectivo, digamos assim. Ora o património de alguém, o acervo de que falava acima, é normalmente constituído por bens diversos, na vertente material, e por múltiplos afectos e bens imateriais, na vertente moral. Mas, mesmo quando é constituído apenas por um só bem ('de meu só tenho uma casa') ou por uma só relação afectiva ('de meu só tenho uma filha'), é ainda a ele que 'meu' se refere, não ao bem ou afecto/bem imaterial/ que a integra, portanto a concordância é feita com aquele, não com estes. Escusado será dizer que isso tanto vale para a concordância de género como para a concordância de número pelo que a forma válida continua a ser 'de meu só tenho duas filhas/casas'). E também será escusado dizer que a expressão nem sempre funciona bem, precisamente porque 'meu' tem habitualmente uma forte conotação de propriedade ou de posse que muitas vezes pode ser vista como desajustada. Não me parece, porém, ser o caso do Bandeira. O que ele basicamente diz é que, que lhe pertencesse ('de meu'), nem sequer um filho teve. Por isso, não sendo uma expressão incomum, não serve para tudo, há que ter algum cuidado com o uso que se faz dela.