estávamos em uma viagem a trabalho para Buenos Aires

gvergara

Senior Member
Castellano (variedad chilensis)
Olá,

Numa entrevista o cantor brasileiro Vinícius Fernando Karlinke da dupla de canto sertanejo fala com a entrevistadora nos planos de paternindade que ele e a sua esposa tiveram. Pergunto-me se soa natural o emprego da preposição para nesse caso, eu esperava em Buenos Aires, já que o uso de para me faz entender que engravidou, bom, no avião durante o voo para Buenos Aires.

Estávamos tentando ter outro filho já fazia um tempo. Audrei engravidou quando estávamos em uma viagem a trabalho para Buenos Aires, mas jamais imaginávamos que seriam dois.

Muito obrigado desde já,

G.
 
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  • O nome que rege a preposição para é viagem.

    A norma pede a preposição a, se a viagem for de curta duração, e para, se de longa, distinção que pouco se faz no Brasil, exceto talvez nas áreas do Norte e do Nordeste onde a preposição a ainda é, como lembraram o Ari e o Guihenning noutro fio, bastante frequente.

    Se se tivesse usado em, a preposição não estaria regida nem por nome nem por verbo; integraria o adjunto adverbial de lugar em Buenos Aires, como deixa mais claro esta reelaboração da frase:

    "(...) quando estávamos em Buenos Aires, em uma viagem a trabalho".
     
    Muito obrigado, RodrigoFV.

    Será que em português viagem só se refere ao deslocamento para um outro local, enquanto em castelhano uma viagem também se refere ao período todo da estadia nesse lugar? Acredito que em castelhano o conceito é mais geral, por isso eu esperava a preposição em. Se não for o caso em português, posso compreender que a preposição para seja a regência natural do substantivo viagem para expressar deslocação.
     
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    Será que em português viagem só se refere ao deslocamento para um outro local
    Estou inclinado a dizer que sim. É possível referir-se ao período como ‘viagem’, mas a preposição não me parece que mude. “gastei rios de dinheiro durante a minha viagem a/para Paris”. A frase do OP pode ser ambígua, mas pragmaticamente falando, não creio que a interpretação primeira seja a de que ela engravidou no caminho. Se esse fosse o caso, é provável que tivesse dito “engravidamos no caminho para B.A…”.
     
    mas a preposição não me parece que mude. “gastei rios de dinheiro durante a minha viagem a/para Paris
    Muito obrigado, guihenning. Lendo a sua resposta, em castelhano também seria o mesmo, a preposição não mudaria, e portanto nesse contexto continuaria sendo de movimento. Apenas posso pensar que, no caso descrito, em castelhano a regência que "manda" é a do verbo estar em qualquer contexto. O RodrigoFV reorganizou os elementos, em cujo caso particular a regência é a do verbo estar, mas na oração original é viagem para (um local).
     
    Muito obrigado, RodrigoFV.

    Será que em português viagem só se refere ao deslocamento para um outro local, enquanto em castelhano uma viagem também se refere ao período todo da estadia nesse lugar? Acredito que em castelhano o conceito é mais geral, por isso eu esperava a preposição em. Se não for o caso em português, posso compreender que a preposição para seja a regência natural do substantivo viagem para expressar deslocação.

    Não, não se refere apenas ao deslocamento a outro lugar; pode referir-se também à estada nele, exatamente como em castelhano.

    Tenho para mim que você está confundindo a preposição (apenas a ou para) que é regida pelo nome (viagem) com a preposição (em) que integra os adjuntos adverbiais (ou o de tempo, em uma viagem, ou o de lugar, em Buenos Aires).

    Vou reelaborar a frase de modo que, embora preserve a referência tanto ao período como ao lugar da estada, ressalte a regência própria do nome viagem:

    Estávamos tentando ter outro filho já fazia um tempo. Audrei engravidou durante uma viagem a/para Buenos Aires a trabalho, mas jamais imaginávamos que seriam dois.

    Ficou mais claro?

    Não se aplica a mesma análise ao espanhol? Julgo que sim.

    Não se diz hacer un viaje en, mas sim a Buenos Aires.

    Ao que parece, pode-se dizer, indiferentemente, embora a primeira forma talvez seja mais frequente, estar de viaje en Buenos Aires e estar en Buenos Aires de viaje.

    Se é assim, fica claro que en integra o adjunto adverbial en Buenos Aires e não é regido pelo nome viaje, pois, se o fosse, haveria restrição à inversão da ordem.

    Portanto, também em castelhano a preposição regida pelo nome viaje é a, e não en, independentemente de o nome indicar o deslocamento, o período da estada ou os dois; indicação que, por sua vez, exigirá um adjunto adverbial de lugar em que ocorrerá a preposição en (en Buenos Aires).

    Muito obrigado, guihenning. Lendo a sua resposta, em castelhano também seria o mesmo, a preposição não mudaria, e portanto nesse contexto continuaria sendo de movimento. Apenas posso pensar que, no caso descrito, em castelhano a regência que "manda" é a do verbo estar em qualquer contexto. O RodrigoFV reorganizou os elementos, em cujo caso particular a regência é a do verbo estar, mas na oração original é viagem para (um local).

    Estava escrevendo a minha resposta quando o Guihenning e você trocaram essas mensagens. Acho que, agora, entendi o cerne do seu estranhamento.

    Mas também em espanhol se encontram numerosos exemplos de estar de viaje a com o mesmo sentido duplo de deslocamento e período de estada que em português.
     
    Estranhei a construção 'viajar a'. Sim, aparece no corpus, não muitas vezes, e sempre no português do Brasil. Ir a, sim. Ir para, sim. Viajar para, sim. Mas viajar a, novidade só para mim?
     
    Deve ser hipercorreção da minha parte e dos outros exemplos do Corpus.

    P.S. Talvez haja ali um elemento nulo que seja o trigger da preposição ‘a’ :p
     
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    Estranhei a construção 'viajar a'. Sim, aparece no corpus, não muitas vezes, e sempre no português do Brasil. Ir a, sim. Ir para, sim. Viajar para, sim. Mas viajar a, novidade só para mim?

    Deve ser hipercorreção da minha parte e dos outros exemplos do Corpus.

    Ah, sim, foi certamente por hipercorreção, por cruzamento com ir a/ir para, que escrevi isto:

    A norma pede a preposição a, se a viagem for de curta duração, e para, se de longa, distinção que pouco se faz no Brasil, exceto talvez nas áreas do Norte e do Nordeste onde a preposição a ainda é, como lembraram o Ari e o Guihenning noutro fio, bastante frequente.

    No entanto, como a regência do verbo e a do nome dele derivado nem sempre coincidem, resolvi pesquisar as ocorrências de viagem a e viagem para no Corpus do Português do Mark Davies e encontrei, para o período do século XIII ao XX, 173 ocorrências da primeira forma e 167 da segunda.

    Ainda que seja preciso depurar os resultados para excluir as ocorrências espúrias, o que não fiz, pode-se concluir que as frequências de ambas as regências nominais são comparáveis.

    Quanto à regência verbal, viajar para é mesmo muito mais frequente (cerca de cinco vezes mais) que viajar a, a qual, todavia, não chega a ser rara, mesmo no PE.

    Como, no trecho em destaque, tratei da norma, por que me refiro sempre ao conjunto das prescrições mais conservadoras, cumpre retificá-lo para deixar claro que se recomenda viajar para.

    Retificação que, porém, não afeta o que importa à resposta à pergunta da OP: a distinção entre a preposição (para) que rege o nome (viagem) e aquela (em) que integra o adjunto adverbial de tempo (em uma viagem a trabalho, no sentido de durante uma viagem a trabalho) e o de lugar (em Buenos Aires).
     
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    Não, não é só para si. Deste lado dizemos: "viagem de/em trabalho".
    Se quisermos dizer o destino, ou se alguém nos perguntar, então aí sim, dizemos: viagem de/em trabalho a/para..."

    Mário Adélio:

    Julgo que o Machadinho se referisse não a "viagem a trabalho" (por "viagem de/em trabalho"), mas sim a "viajar a algum lugar" (por "viajar para algum lugar").

    Fiz una pesquisa ao Corpus do Português e verifiquei que, em PE, viagem de trabalho é muito mais frequente que viagem em trabalho; não encontrei ocorrências de viagem a trabalho.

    Já no PB, viagem a trabalho é a mais frequente, mas também há algumas ocorrências de viagem de trabalho; nenhuma de viagem em trabalho.

    Como falante, acho que eu diria viagem a/de trabalho, indiferentemente, com uma ligeira preferência pela primeira forma.
     
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    Cingindo-me à frase original, e para ajudar menos 🙂, penso que usaria quase todas as preposições com excepção precisamente de 'para': "a Buenos Aires"; "por Buenos Aires"; "em Buenos Aires" - se bem que neste último caso o mais provável seria realaborar a frase, como sugere o RodrigoFV (acrescentado apenas esta variante: "uma viagem de trabalho, em Buenos Aires, mas jamais...".
     
    Numa entrevista o cantor brasileiro Vinícius Fernando Karlinke da dupla de canto sertanejo fala [...]

    Como o objetivo é a naturalidade, mais importante do que a preposição é a maneira como descreve o cantor. Pode escrever apenas "o cantor [sertanejo] Vinícius fala..." ou "o cantor Vinícius, da dupla sertaneja/da dupla com João Bosco, fala...". O estilo musical se chama "música sertaneja" ou "sertanejo".

    Coloquialmente, quando falamos de artistas famosos, é comum até dizermos coisas como "o Vinícius do João Bosco [& Vinícius]". Um dos exemplos mais infames é "o Júnior da Sandy & Júnior", eternamente atrelado ao nome da irmã.
     
    Como o objetivo é a naturalidade, mais importante do que a preposição é a maneira como descreve o cantor. Pode escrever apenas "o cantor [sertanejo] Vinícius fala..." ou "o cantor Vinícius, da dupla sertaneja/da dupla com João Bosco, fala...". O estilo musical se chama "música sertaneja" ou "sertanejo".

    Coloquialmente, quando falamos de artistas famosos, é comum até dizermos coisas como "o Vinícius do João Bosco [& Vinícius]". Um dos exemplos mais infames é "o Júnior da Sandy & Júnior", eternamente atrelado ao nome da irmã.

    Peço desculpa pelo "off-topic", mas o João Bosco é considerado (músico de) sertanejo?

    Ou há mais do que um João Bosco?
     
    Peço desculpa pelo "off-topic", mas o João Bosco é considerado (músico de) sertanejo?

    Ou há mais do que um João Bosco?

    É outro, assim como também é outro o Vinícius; e, não, o João Bosco que lhe veio à mente não é cantor sertanejo.
     
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