A pergunta da discussão veio bem ao encontro de algo em que de modo recorrente tenho pensado.
Certa vez, Napoleão Mendes de Almeida, creio eu que no seu Dicionário de questões vernáculas, disse, do seu jeito bem prescritivista, que deveríamos ter bem clara a distinção entre “tenho que” e “tenho de”. Segundo ele, frases como “ela afirmou que eu tinha que tomar mais cuidado” seriam melhor formadas com o uso de “tenho de”, ou seja, de forma correta escreveríamos e diríamos: “ela afirmou que eu tinha de tomar mais cuidado”. “Ter que” seria usado no sentido aqui discutido: “tenho mais que fazer”.
Contudo, é fato que no Brasil quase todos dizem “tenho que fazer X” e, no caso de “tenho mais que fazer”, — é o que me parece — dizem “tenho mais o que fazer”. No primeiro caso, acabamos, por coincidência ou não, convergindo no uso com o espanhol, idioma em que se diz “tengo que”. No entanto, no segundo, acabamos por criar algo próprio, ou seja, em vez de manter o “tenho mais que fazer”, pusemos um “o” antes do “que”. (“Criando” porque me parece mais natural que a novidade seja nossa, já que em tanto no português europeu quanto no espanhol há a mesma forma, e a divergente é a construção brasileira.)
A pergunta é: como é que houve essa inovação no Brasil? Conseguem dar hipóteses? Terá sido uma questão fonética?