Na literatura há uma construção similar que aparece com bastante frequência: "passou o dia a falar com as paredes" e similares. Não creio que cause muita estranheza, diferente dos exemplos dados pelo patriota que me cheiram a lusismo propositadamente importado (com estar). Um preciosismo, já que o infinitivo gerundivo não existe no Brasil como existe em Portugal, onde só se estabeleceu no século XX e, ao contrário do que pensa a maioria dos brasileiros, não é unânime em todo o país luso.
Quando eu estava no último ano do ensino médio, tivemos de fazer uma peça teatral de época sobre a independência do Brasil. O contexto histórico era o do fim do século XVIII e os meus colegas acharam por bem que as personagens portuguesas dissessem "estou a ver…", "estou a falar" porque naturalmente julgaram que essa era uma forma antiga que provavelmente tenha caído em desuso no Brasil, o que não é verdade. À época nem os portugueses falavam assim. Parece-me qu'uma novela da Globo recentemente cometeu a mesma gafe com o anacronismo linguístico.
O que quero com esse exemplo dizer é que esse uso que tem feito o STF parece ser um preciosismo ingênuo: alguém no meio deve ter pensado que tenha sido forma vernácula no Brasil em alguma época e passou a utilizá-la. Devem tê-la achado chique, vintage… De maneira geral, no imaginário popular, o português europeu sempre será o mais correto e terá prestígio (vejam-se as nossas gramáticas)... Razão pela qual eu não duvido nada que isso possa se popularizar por lá, a começar pelo juridiquês.