invém

machadinho

Senior Member
Português do Brasil
Em Minas, antes de tocar na dormideira, uma plantinha, as crianças da fazenda recitavam:

Fecha a porta, Maria,
Que o boi invém.

Esse 'invém' invém de quê, hein? É um arcaismo? Há casos semelhantes com outros verbos?

'brigado
 
  • Eu não conhecia… a única „anomalia“ de vir que conheço é que o infinitivo já foi „vim“… esse invém deve ser mineirismo.
    Ou o mais próximo que me ocorre seria o pronome „en“, que embora tenha pisado no Brasil, vejam-se as cartas de Caminha, já estava na época em vias de se arcaizar e não creio que tenha sobrevivido à metade do século XVII. Mas se fosse isso, teria de haver outros resquícios, creio…
    O boi vem [d]a mata > o boi {en} vem (??? Forcei demais a barra agora)
     
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    Meu falecido pai, professor de História, dizia-me que o falar mineiro-goiano era o falar vicentino-paulista antigo, de antes do século XVII. Poderia estar aí alguma explicação? Ou seria um castelhanismo ou galeguismo, do período dos Felipes de Espanha?

    Obs.: a capitania de São Paulo e Minas do Ouro, formada a partir das capitanias de São Vicente, Santana e Rio de Janeiro (parte), era bem grandinha, incluindo o que depois seria Goiás, Mato Grosso e Paraná (esta já como província, durante o Império dos Bragança).
     
    Eu não conhecia… a única „anomalia“ de vir que conheço é que o infinitivo já foi „vim“… esse invém deve ser mineirismo.
    Ou o mais próximo que me ocorre seria o pronome „en“, que embora tenha pisado no Brasil, vejam-se as cartas de Caminha, já estava na época em vias de se arcaizar e não creio que tenha sobrevivido à metade do século XVII. Mas se fosse isso, teria de haver outros resquícios, creio…
    O boi vem [d]a mata > o boi {en} vem (??? Forcei demais a barra agora)
    Não pode ser derivado de "o boi aí vem"?
     
    Eu também apostaria por esse caminho, efeito "telefone sem fio". As crianças vão repetindo o que ouvem até que uma ouve algo um pouquinho diferente e a nova versão se propaga. Dela surge uma outra um pouquinho diferente e assim por diante darwinianamente. A versão mais sonora se perpetua, não importa se faz sentido ou não. Quando morei em Barbacena, já faz um tempinho :)rolleyes:), havia uma expressão para dizer "ninguém sabe": deussabemo. De onde terá vindo isso e por quais mecanismos, deussabemo. Provavelmente se perdeu, duvido que ainda se fale.

    Ou "invém" pode ser um fenômeno localizado, só ocorrendo naquela fazenda descrita. Conheci uma senhora que, para significar "muita gente, todo mundo, só a torcida do Flamengo", dizia "contou essa história pra Deus, todo mundo e as quengas de São Raimundo". Não faço ideia de quem tenha sido São Raimundo, muito menos quem seriam as quengas (prostitutas no falar local) e não adianta procurar, porque só a família da boa senhora conhece essa frase feita. Tende ao olvido.
     
    Riobaldo said:
    Parecia que a guerra já tinha se terminado bem. ― Berimbáu! ― um disse ― Agora é gozar gozo... Mas. ― Ah, e Zé Bebelo? ― perguntei. Um Federico Xexéu, que vinha de recado, botava o fácil desânimo: ― Ih! Zé Bebél? Evém ele, com gentes de nuvens gentes... A desléguas, se guerreava. A gente recebia a notícia. Aí ― cavalaria chusma, arruá que chegando, aos estropes, terras arribavam: ― Eta, é?! Sendo que era não. Só era Só Candelário, de repente. Apareceu, com aqueles muitos homens.
    Tipo esse mineiro aí, Vanda?
    Ou "invém" pode ser um fenômeno localizado, só ocorrendo naquela fazenda descrita.
    Menor chance, Ari.
     
    Evém eu j'ovi. Com os dois ééé bem abééértos.
    Invém inda não.
     
    Claro, machadinho. Nosso grande Rosa. Fui conhecer o mineirês das veredas quando morei numa cidade situada depois da cidade dele. Nada melhor do que o Rosa pra gente aprender mineirês do cerrrado.
     
    O supremo Bode Orelana, que gostava de comer livros e jornais, à falta de algo mais adequado, para depois declamar o conteúdo, um dia saiu-se com esta: "Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja."
    Ante o espanto da ingênua Graúna, o filósofo Zeferino explicou: "Liga não; ele comeu um livro do Guimarães Rosa".

    Saudades do irmão do Betinho, o Henfil.
     
    Eu também conhecia essa versão de @guihenning.
    Mas... como em muitas cantigas populares, ambas primam pela rima mais que pelo sentido. É bem provável que haja uma versão original diferente de ambas.
     
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