@Ari RT: Não encontrei 'pecoral' nos dicionários, no corpus e no google, salvo como sobrenome. Por acaso é ou foi um vocábulo em uso no seu dialeto?
Não. Segui sua dica e, cético, busquei uma solução para o trânsito da sílaba tônica, uma forma de encaixar sua hipótese nos mecanismos de simplificação costumeiros na fala "caipira". Conformei-me com que os mecanismos usuais de derivação, se aplicados a "pécora" com o grau de frouxidão usual na fala popular, poderiam sim desembocar em pecoral. Cipó-> cipoal, milho-> milharal, jurema-> juremal-> juremá ("isso" já tem na música), eucalipto-> eucaliptal. Minha avó dizia "calipá", e esses dois últimos exemplos já sobem outro degrau, a passagem de pecoral a pecorá e pecoá. É possível. Não vejo como provável, mas deixei o julgamento do mérito para os foreiros.
E apresentei minha hipótese, que é por uma forma corrompida de "picoá" ou "piquá". A semelhança fonética é melhor. Mas não tenho a certeza necessária para afirmar uma ou negar outra. Pode haver muitas pécoras na campina, como pode haver mulas equipadas com picoás. Cestos gemem, mas não cantam; gado "canta" (mu?), mas não geme.
Viriato não era caipira. Sua noção de fala popular deve ser buscada no seu Maranhão natal, como lembra
@Guigo acima, e/ou no estereótipo de "nordestinês" vigente no Rio de Janeiro onde fez carreira. Não creio que o interregno pernambucano, na "cidade grande", haja tido influência significativa para o que se aprecia neste fio.
Havia, sim, uma cultura tropeira no nordeste rural da sua adolescência. Observação pessoal, 100% empírica, 0% estruturada, 0% compartilhada ou submetida a métricas academicamente aceitáveis, me indicam que há ainda hoje algumas semelhanças, provavelmente fortuitas, entre o falar tropeiro do interior paulista (onde nasci) e reminiscências do falar tropeiro sertanejo nordestino (onde moro). Sistema imperial de medidas de peso, volume e distância. Escala de valores. Comida. Influência maior que o esperado do tupi no vocabulário. "Restos" da consoante rótica da minha infância que eu nem em sonho esperava ouvir por aqui, tenho ouvido na boca de segunda e terceira gerações de influência tropeira. Isso
justificaria o "picuá" ou o "drift" de pécora a pecoral, pecorá e pecoá? É dizer muito. Explicaria? Talvez explique um ou outro. Afirmar incorreria em risco desnecessário de leviandade.
Em um ponto estamos juntos: Qualquer das duas hipóteses esbarra no empecilho da inomogeneidade representada por uma só palavra "em dialeto" dentro de uma obra que, de resto, adere à norma. Por isso me inclino por "picuá". A diferença para a norma é menor, apenas a abertura de uma vogal, e a "origem" da palavra é o tupi, quando no outro caso (pecoral) a diferença é maior e a "origem" seria um mecanismo linguístico que, embora reconhecido, não foi chamado a funcionar em nenhum outro ponto ao longo da peça.
O que se pode dizer de certo é que haja algo na campina que canta e geme ao longe (lá).